Pé do tecido: como a superfície têxtil influencia na modelagem e no corte dos tecidos

Pé do tecido: como a superfície têxtil influencia na modelagem e no corte dos tecidos


Esse termo “tecido com pé” é um jargão da área da confecção, um termo técnico, que é compreendido no setor confeccionista da indústria, nas lojas de tecidos e nos ateliers de roupas sob medida.

No vídeo anterior, eu falei que o tecido tem um sentido correto ou mais utilizado, que é o sentido vertical em relação ao comprimento. Isso não significa que a gente possa virar ele, em 180 graus, pois às vezes o tecido tem uma posição correta para ser manipulado, isso depende do tecido. Vamos ver quando isso acontece.

Para entender o termo, podemos pensar no corpo humano, a lógica desse termo está associada aos pés – pés em baixo, cabeça em cima.

O pé do tecido se refere a característica da sua superfície têxtil, a sua aparência externa. Tem dois fatores que levam um tecido a “ter pé”: a estampa e o sentido dos pelos.

Esse tecido é um Tricoline, típico utilizado em artesanato. Todos os cupcakes estão no mesmo sentido, não é possível virar de cabeça pra baixo.


Então veja o que acontece quando estamos projetando uma roupa.

Estampa unidirecional

É aquela na qual os motivos têm uma posição determinada em relação ao plano cartesiano, ou seja, a posição horizontal e vertical dos elementos é fixa na superfície.

Exemplo de estampa unidirecional

 

Um bom exemplo é uma árvore, as raízes em baixo e os galhos e folhas em cima, sem a possibilidade de virar.


  Exemplo de roupa com estampa unidirecional (estampa complexa feita por sublimação)

 

Posicionamento dos moldes na estampa unidirecional

Existe apenas uma possibilidade de posicionamento, aquela que acompanhe o sentido dos motivos, pois isso vai influenciar diretamente na aparência da roupa pronta.

Moldes posicionados em um único sentido


Estampa bidirecional

É a estampa na qual os motivos estão virados para cima ou para baixo, ainda que permaneçam perpendiculares em relação ao solo.

Exemplo de estampa bidirecional


Posicionamento dos moldes na estampa bidirecional

Existem duas possibilidades de posicionamento, pois é possível dispor os moldes virados para cima ou para baixo.

Moldes posicionados em dois sentidos - para cima ou para baixo

 

Estampa multidirecional

É a estampa na qual os motivos estão dispostos em todas as direções, podendo ou não obedecer a alguma lógica. No caso dos motivos independentes (exemplo abaixo) essa disposição é múltipla, porém ordenada. Ainda que pareça caótica a imagem formada de elementos girados em torno do eixo, existe sim uma ordem de repetição existente em toda a superfície, chamada de rapport na área da moda. 

Exemplo de estampa multidirecional

 

Posicionamento dos moldes na estampa multidirecional

Existem duas possibilidades de posicionamento, pois é possível dispor os moldes virados para cima ou para baixo. Por que somente duas? Devido ao fio do tecido, que é imutável (ou imexível, como se dizia nos anos 90). O posicionamento do fio reto (que não é viés), para garantir o bom caimento da roupa pronta, exige que o molde sempre fique paralelo a ourela do tecido, no sentido vertical.

 Moldes posicionados em dois sentidos - para cima ou para baixo

São inúmeras as possibilidades de estampas multidirecionais – a maioria das estampas são assim.


Além dos tecidos estampados, há outra categoria de tecidos com pé – os veludos. Nessa categoria entram os veludos tecidos planos e os veludos de malha, o plush por exemplo.

Para verificar isso, basta passar a mão sobre os pelos: quando estão para baixo, que é o sentido correto, o material tem brilho. Quando passamos a mão e viramos os pelos para cima, o brilho some e fica mais escuro. É um clássico tecido com pé.

Exemplo: veludo cotelê


O posicionamento dos moldes no veludo obedece a mesma lógica dos estampados que vimos anteriormente. Todos os moldes devem ser posicionados no mesmo sentido.

Consequências de usar tecido com pé

O problema é que consome mais tecido. Quando o tecido tem pé, todos os moldes devem ficar posicionados no mesmo sentido. Nada de virar de cabeça para baixo para aproveitar tecido, pois a sua roupa vai ficar com partes diferentes e o erro fica bem perceptível.  Não tem jeito, esse tipo de limitação, o pé do tecido, leva a um consumo maior de tecido e consequentemente a um gasto em dinheiro também.

Na indústria, isso impacta no custo da roupa. Na costura doméstica, como a pessoa só vai fazer uma peça de roupa, basta tomar cuidado. Quando você for calcular o consumo do tecido, esteja consciente do posicionamento correto de todas as partes do molde para estimar quanto tecido vai precisar comprar. E na hora de cortar o tecido, mas cuidado ainda para não virar o molde. Se você é minha aluna já sabe disso, pois temos uma aula completa somente sobre consumo de tecido.

E você, já comprou um tecido e quando foi cortar viu que tinha que cuidar o sentido dos moldes? Ou nem viu e foi cortando e na hora de costurar é que viu que ficou de cabeça pra baixo? Compartilhe com a gente aqui nos comentários.

 

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